Bom dia e seja bem-vindo(a) a esta “sexta-feira á tarde”, lançamento on-line do capítulo de Terapia Narrativa dos Direitos de Contar de Histórias. David Denborough trabalha no Dulwich Centre Foundation e este capítulo faz parte de um projeto mais amplo em relação à “justiça narrativa” com a qual a Dulwich Centre Foundation International está envolvida atualmente:
Ao se reunir com pessoas cujos problemas resultam de abusos e injustiças de direitos humanos, como podemos garantir que não separemos a cura da justiça?
Este capítulo propõe um quadro para considerar os direitos de contar histórias. Esperamos que isso desencadeie discussões sobre os direitos das pessoas que sofreram traumas sofrimento social em relação a como suas histórias são contadas e recebidas. Convidamos você a discutir este capítulo conosco, com amigos, colegas, em sua organização e em outros lugares. Você pode gostar de endossar este capítulo ou oferecer sugestões, alterações e adições.
Bem-vindo(a) a esta conversa da “sexta-feira à tarde”!
Leitura adicional (com títulos originais) :
A human rights approach to psychotherapy por Khader Rasras
A framework for receiving and documenting testimonies of trauma por David Denborough
O Capítulo de Terapia Narrativa dos Direitos de Contar Histórias tem se inspirado nos seguintes trabalhos:
* Just Therapy Team from New Zealand
* Reclaiming our stories, reclaiming our lives project
* Ibuka: the national genocide survivors association of Rwanda
* Treatment and Rehabilitation Center for Victims of Torture in Ramallah, Palestine
De fato, esse tema de terapia e justiça tem muito o que abordar. Quando penso sobre esse lugar do cliente na terapia narrativa encontrar uma história alternativa, percebo que certos casos podem ficar muito dificultados se a pessoa enfrenta uma barreira de injustiça. Esses artigos principais da Declaração são inspiradores, eu pessoalmente concordo com todos, mas acho que na prática, existem ainda muitos desafios para encontrar o lugar de liberdade de fala sobre um trauma relacionado a uma injustiça. Ainda quero ler mais a respeito, para entender onde essa Declaração atua e qual sua influência real.
Muito interessante esse conceito de justiça narrativa, assim como a ideia de que cura e justiça caminham juntas. Fico me perguntando como poderíamos aproveitar essas ideias no Brasil, em um contexto de crescentes injustiças contra os segmentos mais vulneráveis da população.
Trabalhei por três anos com mães de jovens (e crianças) assassinadas por agentes do Estado (sobretudo policiais) no Rio de Janeiro. De alguma forma, mesmo sem conhecer esse conceito de justiça narrativa, utilizamos, naquele momento, práticas narrativas que atendiam aos princípios expressos na declaração sobre os direitos de contar histórias. O trabalho consistiu em uma intensa troca de experiências e ações solidárias, além de dois cursos de formação de agentes comunitárias de justiça e de um livro, produzido pelas participantes do grupo, chamado Auto de Resistência, no qual suas histórias foram contadas segundo suas próprias perspectivas. No entanto, passados alguns anos, observo que novas gerações de mães de vítimas da violência policial continuam surgindo, sem tréguas, e as esperanças de justiça são cada vez menores. Muitos processos judiciais não avançam, agentes envolvidos nos assassinatos permanecem trabalhando e as execuções extra judiciais continuam crescendo. A triste conclusão é que como não há justiça, as possibilidades de cura se tornam muito remotas. Imagino que essas possibilidades dependam em grande parte de mudanças no plano político e de processos de reparação de danos feitos à determinadas populações ou grupos populacionais. No Brasil, infelizmente, ainda estamos produzindo e ampliando os danos….
O interessante aqui é mostrar que estas normas trazidas nesta declaração são DIREITOS e não favores que se prestam às pessoas.
Muito fascinante o conceito de justiça narrativa, deixando claro o sentido de justiça e cura estarem diretamente relacionados.
Penso que o direito de contar histórias conecta o indivíduo com uma perspectiva mais ampla, onde novos e preferidos significados são atribuídos, gerando novos sentidos, abrindo possibilidades. Percebo também, que ao mesmo tempo que este sete pontos fortalecem o indivíduo e suas potencialidades o interliga com o contexto histórico cultual, o permitindo perceber sua atividade sobre ele, onde o contrário também é válido.
Ponto de vista excelente, uma vez que a declaração em contento traz fortalecimento às pessoas, no sento de que elas possuem este direito de se libertar de seus sofrimentos.
Interessante a apresentação de como surgiram e os objetivos das “sextas-feiras à tarde” e a relação entre a justiça e a cura, perceber o sofrimento como resultado da injustiça é algo que devemos exercer.
O fato da Declaração da Terapia Narrativa ser amparada na Declaração dos Direitos Humanos demonstra como essa modalidade considera o ser humano e suas particularidades, garantindo dignidade e validade. Acredito que o direito de contar histórias possibilita essa validade do sentimento, da emoção em determinadas situações.
Fiquei extremamente tocada com esse capítulo. A Declaração da Terapia Narrativa Sobre os Direitos de Contar Histórias tem o poder de ser, ao mesmo tempo, simples e complexa, pois traz a tona um olhar humanizador sobre o outro, o que deveria ser rotina para nós. Ainda assim, quando escuto os 7 Artigos fico reflexiva sobre as minhas ações perante outras pessoas.
Estou permitindo que o outro se expresse como realmente é? Valorizo o contexto de onde ele veio e torno isso presente na escuta? Consigo perceber quem são as figuras importantes no processo de cura? Percebo o outro para além do que ele fala e valorizo pontos diferentes de sua história? Compreendo a diferença entre uma ação, de uma reação ao trauma? Reconheço as mudanças que estão acontecendo? Percebo o papel dessa pessoa em seu contexto, ou até para além dele?
Refletindo sobre esses questionamentos, comecei a ler a entrevista com Khader Rasras que está na leitura adicional, e percebi como é possível responder com um “sim” a essas perguntas. É interessante ver como ele consegue trazer os direitos humanos no seu trabalho, mesmo num contexto tão difícil, buscando olhar e tratar as pessoas de modo oposto as dificuldades que passaram ou passam. De uma simples pedra, como ele descreve na entrevista, é possível encontrar várias possibilidades de uso e ressignificação de uma imagem.
Penso que essa é uma forma de trabalhar o trauma para se chegar à cura e à justiça: descobrir novos caminhos e significados, com os recursos que existem e trazendo novos.
Acho que o ponto chave aqui é reconhecer como direito do outro a lida do profissional em se inserir radicalmente na terapia e não simplesmente comercializar o atendimento como tenho sabido de “terapeutas” que atendem por planos de saúde com sessões de 30 minutos, sem intervalo entre os pacientes, atendendo em média 20 pessoas por dia.
manifesto muito importante em nosso cenário nacional!!!!
Que iniciativa interessante. Unir e discutir cura e justiça. Vemos a justiça ligada a narrativa e escrita de fatos que confirmam e engrandecem o adoecimento, dores e traumas. Ter o direito de ver sua história recontada sob a perspectiva da cura, do saudável, de possibilidades boas, bonitas e agregam qualidade de vida é incrível.
Com certeza este é um tema bastante delicado e com diversas possibilidades de exploração, e deste modo é sempre importante exercitar nosso senso crítico para permitir crescentes e positivas evoluções não só neste âmbito do conhecimento como em todos os outros.
A Declaração em meu ponto de vista foi muito bem pensada e executada e defendo e apoio todos os artigos ali apresentados. O que mais me chamou atenção foi a frase de Michael White:”A pessoa não é o problema, o problema é o problema”, pois realmente é assim que devemos enxergar os indivíduos, e não através de seus problemas, diagnósticos, pré-conceitos,etc. Ele é dotado de histórias por trás destas questões.
E para finalizar, retomo o vídeo, deixando aqui este outro trecho”…a cura é uma forma de justiça e a justiça é uma forma de cura…”
O lugar do terapeuta como ativista político
Sobre Cura e Justiça, convido a todas e a Todos A assistirem uma série da Rede Globo chamada Justiça que tem tudo a ver com as histórias que se cruzam ou que estão num mesmo tempo e espaço sem necessariamente se cruzarem e o processo de cura e a Teoria de Justiça presente na história de Manuela Dias.
Falo do Brasil, Estado de São Paulo, Cidade de São Paulo. A minissérie Justiça está disponível no Globoplay.
Muito bonita a declaração. Ao ler o último tópico do capítulo “O poder de contar histórias”, fiquei pensando que poder contar sua história, conseguir organizá-la e entendê-la a partir de tudo o que significa é um privilégio. Ao ver o vídeo, fiquei pensando que o grande privilégio está em ser ouvido e reconhecido em sua história. A Declaração serve para deixar claro que ter sua história ouvida, considerada e reconhecida já é uma forma de cura, e de justiça, na medida em que as duas caminham juntas. As injustiças sociais carregam o princípio de um não reconhecimento do sujeito que vive. E oferecer o direito de contar sua história e considerá-la a partir de seu contexto, e mais ainda, deixar claro que aquela história pode carregar a cura para outra pessoa, já se mostra como uma ação concreta para minimizar a injustiça.
Acredito que a mudança do mundo parte de uma ação, ainda que pequena e individual. Talvez no ato de contar sua história, de considerar a história do outro. É importante reconhecer o lugar político de nossas ações: “garantir que não perpetuamos formas de desvalorização e injustiça” em nossa prática, em nossas relações, em nossa história.
Todos nós sabemos, ou deveríamos saber, do impacto que teve a Declaração dos Direitos Humanos da ONU em 1948. Rosa Parks em 1951, alforriada por esta Carta Humanista, enfrentou o racismo nos USA em 1951 pelo direito de não ceder assento aos brancos nos ônibus coletivos. Sob a inspiração destes mandamentos da ONU, a Declaração do Direitos de Contar Historias, vinculadas aos processos de terapia, aponta para o direito do individuo libertar-se de um sofrimento. É bastante sutil este documento, uma vez que se trata de colocar sob o amparo da Justiça o direito da busca por um contar de sua historia de dor, o que por sua vez acarreta uma boa escuta profissional. Rosa Parks reivindicou de não ceder lugar aos brancos, porque estava amparada por uma Carta de Direitos Humanos, que abriu seus olhos, dizendo que ela tinha direito de não ser subjugada por costume que tinha se naturalizado. Assim, não é natural ‘”engolir a seco” o sofrimento mental: as pessoas têm o direito de contar suas histórias de dor, para que re-editem suas história de vida.
Gostei muito de saber como justiça e cura estão juntas. Conhecer a Declaração do Direito de Contar Histórias faz-me refletir sobre o direito realmente que as pessoas têm de contar suas histórias, em seus contextos, sem julgamento serem ouvidas.
Excelente essa Declaração do Direito de contar histórias. Boas reflexões sobre justiça e cura.
Me chamou muito a atenção a relação entre justiça e cura e o artigo 4, “A pessoa não é o problema, o problema é o problema”. Isso me fez pensar na importância da aplicação desta Declaração, principalmente por causa daqueles que sofrem discriminação e não são respeitados devido a crenças e valores socialmente herdados pela cultura dominante. E ao dissociar o problema da pessoa, isto promove a validação de outras histórias alternativas que podem contribuir para a construção de outras possibilidades na vida
Fiquei pensativa a respeito de como potencializar, através das politicas publicas de saúde e de assistência social, o Direito de Contar Histórias, tendo em vista que são totalmente condizentes com o que se propõe nos CAPS e nos CRAS.
A Declaração do Direito a contar História é incrível, reconhece como protagonista do processo de mudança todas a(s) pessoa(s) que enfrentam dificuldades, injustiça e abuso. esta Declaração me fez recordar minha pratica, enquanto eu trabalhava em cidade do interior de Minas Gerais, a uns 15 anos atrás, onde por força da comunidade foram transformadas injustiças vivenciadas em cura e justiça. Nesta época um filme me marcou profundamente , “Em Minha Terra/Country of My Skull 2004, se baseava na Comissão de Verdade e Conciliação, tribunais abertos de diálogo e reconhecimento das histórias alternativas. Esta Experiência tem muita semelhança com a compreensão que o problema não é a pessoa, mas sim que as pessoas vivenciam uma situação problema e através do dialogo pode dissolver o problema. a cada leitura me interesso cada vez mais pelas praticas narrativas.
A união de cura e justiça é algo que eu ainda não havia conhecido em nenhum tipo de abordagem dentro da Psicologia, ao menos no Brasil. As Terapias/Práticas Narrativas muito têm me surpreendido e me enriquecido, primeiramente enquanto ser humano e, por conseguinte, também enquanto profissional. Muito tenho aprendido e muito tenho repensado minha própria história.
O fato da busca de uma semelhança com a o tratado dos Direitos Humanos já nos remete a algo que vai em busca de reparar as injustiças praticadas no desenvolvimento das sociedades em praticamente todos os continentes. Ter um tempo para esses encontros reflexivos fortalece e inspira muitos outros trabalhos humanitários. A defesa pelo povo aborígene, e outros projetos como na Colômbia e Sudão por exemplo dão seriedade e comprometimento ao Instituto e ao tratado.
” A pessoa não é o problema , o problema é o problema ” que é uma frase de Michael White e poder inserir o complemento sugerido por David Denborough ” e a solução não é apenas pessoal”; abre uma perspectiva de relação entre justiça e cura, além de respaldar a Declaração sobre o Direito de Contar Histórias. Achei muito interessante a idéia de comunidades que passaram por sofrimentos poderem contar como superaram suas dificuldades para outras comunidades, que possam ajudá-las a encontrar suas próprias soluções.
Meu nome é Laura de Mattos Machado, e eu achei de extrema importância a criação dessa tradição das sextas-feiras à tarde e da Declaração dando voz as pessoas que sofrem, mostrando para elas como é importante falar com a boca para os órgãos não adoecerem e, principalmente, mostrando que elas tem direitos de falar, direitos de justiça.
Eu faço parte de um estágio de Terapia Comunitária Integrativa e eu vi o artigo 7 muito presente nessa terapia, porque a pessoa fala da sua angústia, do problema que ela está enfrentando e depois as pessoas que já passaram pela situação parecida nos contam o que elas fizeram para superar isso, assim, a pessoa que falou da sua angústia consegue ter um norte para sair dessa situação, vendo que existem possibilidades de superar a sua dor.