Neste capítulo, examinamos as maneiras pelas quais o pensamento crítico pode contribuir para nossa prática. As práticas narrativas nos convidam a ser curiosos sobre de onde vêm nossas idéias e seus efeitos. Aqui nós olhamos para alguns dos pressupostos teóricos da prática narrativa, maneiras pelas quais podemos fortalecer nosso pensamento crítico e como isso pode influenciar nosso trabalho.
“Crítico não significa destrutivo, mas apenas disposto a examinar o que às vezes pressupomos em nossa maneira de pensar, e isso atrapalha a criação de um mundo mais habitável”
Algumas referências de Judith Butler
O artigo disponível no link a seguir, de Mary Heath, começa definindo o pensamento crítico e estabelecendo uma história pessoal da jornada do autor para se tornar um pensador crítico. Algumas dimensões do pensamento crítico são delineadas, juntamente com perguntas que podem permitir aos leitores aplicá-las a contextos específicos.
Sobre o Pensamento Crítico | Mary Heath
Um convite para falar sobre o privilégio de Salome Raheim
As relações e práticas de poder que influenciam nossas vidas são muitas vezes invisíveis para nós. Se não olharmos proativamente como as relações de poder operam para criar vantagens para alguns e negar essas vantagens aos outros, isso prejudica nosso trabalho como terapeutas e praticantes comunitários. Sem examinar as operações de privilégio, não podemos ver as circunstâncias que criam restrições na vida de outras pessoas. Nós somos incapazes de apreciar seus esforços diários para trabalhar e viver no contexto dessas restrições, ou para resistir a elas.
Além disso, somos incapazes de ver como nossas vidas são facilitadas. Pensamos que a facilidade com que somos capazes de operar no mundo é a forma e nos tornamos alheios ao fato de que a vida de todos não é como a nossa.
Além disso, a menos que examinemos rotineiramente as operações de poder e nosso lugar dentro dessas operações, não percebemos como podemos, inadvertidamente, impor nossas expectativas, nossos meios culturais, nossos modos de pensar, as pessoas com quem trabalhamos. Essas imposições tendem a diminuir aqueles que nos consultam e são destrutivas para o bom trabalho que desejamos realizar.
Este exercício e desconstrução das operações de privilégio melhora nossa prática como terapeutas e agentes comunitários. É somente quando reconhecemos o que as pessoas estão enfrentando que podemos perceber e convidar as pessoas a descrever ricamente suas histórias de resistência. É somente ao examinar as operações de privilégio que podemos nos tornar mais conscientes do potencial de nossa prática de perceber as possíveis consequências negativas de marginalizar e diminuir a vida das pessoas e subordinar suas histórias.
Este trabalho tem uma ressonância particular para aqueles de nós que são de grupos marginalizados. Examinar as operações de poder e privilégio torna visíveis as restrições sobre nossas vidas. Isso nos ajuda a entender que essas restrições não se devem a déficits individuais, déficits de grupo ou déficits culturais. O problema não está localizado dentro de nós. Isso diminui a influência da vergonha e torna a resistência mais possível.
Nas páginas seguintes, incluímos uma série de exercícios que esperamos que ajudem a explorar essas questões.
Por favor, abra esta página para ler sobre: An invitation to narrative practitioners to address privilege and dominance
A Terapia Narrativa e o trabalho comunitário são considerados pós-modernos e pós-estruturalistas na orientação teórica. No link a seguir, Leonie Thomas nos ajuda a entender o que isso pode significar e se concentra em algumas áreas do pós-estruturalismo, oferecendo algumas respostas às perguntas mais frequentes.
Pós-estruturalismo e terapia – o que é isso tudo? | Leonie Thomas
Para refletir:
O que o “pensamento crítico” significa para você?
Como sua prática pode ser diferente devido ao seu envolvimento com esses materiais?
Você tem alguma história ou ditado que o mantenha conectado ao “pensamento crítico”?
Por favor, responda a estas perguntas no fórum abaixo! Não se esqueça de incluir de que estado e país você está escrevendo. Obrigado!
Neste módulo sobre pensamento crítico, foi particularmente relevante o texto de Salome Raheim. Já refletia acerca dos privilégios, do quanto minha condição de mulher branca, heterossexual e de classe média, influenciava na maneira como o outro se relacionava comigo, imprimindo facilidades. No entanto, por outro lado, ser mulher em uma cultura ainda, predominantemente patriarcal, impacta negativamente, por vezes, as minhas experiências profissionais. O artigo de Salome me fez revisitar uma série de vivências a esse respeito, me fez ver também o quanto relações desiguais de poder permeavam as instituições onde trabalhei. Tentava subvertê-las, por vezes, mas acabava por me sentir impotente, solitária. Penso na importância de estarmos atentos às desigualdades implícitas e explícitas que influenciam nas nossas relações com o outro. Pensarmos sempre de que lugar falamos e a que interesses estamos atendendo.
O pensamento que dispara em mim a reflexão diária é de Ganghi: ” Seja a mudança que deseja ver no mundo”. Sou de Vitória-ES, BR.
Realmente, este texto foi importante foi importante para mim também, para que eu me veja em uma situação frente aos relacionamentos.
Interessante pensar acerca do quanto os privilégios nos colocam em uma posição pouco empática. Sair da caixa é fundamental para esse lugar.
Um convite tentador a leitura do texto de Mary Heath sobre o Pensamento Crítico. Começar por sua história pessoal foi um privilégio que me remeteu imediatamente as minhas próprias reflexões, criando uma atmosfera mais intimista e autorreferente. Uma das passagens que mais me capturaram foi seu questionamento sobre nos mantermos em nosso “metro quadrado” de crenças e valores que nos “moldam”, não nos favorecendo a extensão e a amplitude de nossos níveis de compreensão. Será que a “verdadeira” segurança não está exatamente em contextos onde há discordâncias e conflito? Que regras podemos assumir para garantirmos conversações onde não se almeja o consenso, mais, sim, a manutenção da tensão nas diferenças? Sem dúvida os questionamentos da autora elevam nosso senso de autocrítica e colaboração, nos fazendo percorrer cenas de nossas vidas onde poderíamos ter sido diferentes e melhores, o que nos permite um presente mais autoreflexivo e um futuro mais solidário.
Gostei quando você fala de ficarmos cada um no seu quadrado. Trocar ideias é realmente muito difícil, mas enriquecedor.
Acho importante termos pensamentos críticos, assim mostra de forma educada e sem agressividade sempre, que você é uma pessoa de opinião.. É bom também para que de modo que você fale outras pessoas se sintam confortáveis em dizer também e é legal discutir sobre algo de forma civilizado!! acho interessante essa pratica para termos outras visões também..
Umas das premissas para a crítica é o respeito ao outro, às suas ideias.
Eu gosto da seguinte frase (não sei a autoria, li a bastante tempo): Se você não conhece ou não entende, não quer dizer que não existe ou não funcione. Fui criada em um contexto de incentivo ao pensamento crítico e também não foi e não é fácil, mas é intrigante e rico.
A crítica pode ser tanto construtiva, quanto destrutiva, isso não impede de expressar sua opinião, porém depende da maneira, entonação e o contexto à ser dito, facilitando a convivência em grupo…
Percebi que, com este capítulo, o pensamento crítico não é algo ruim, mas nesta sociedade atual em que vivemos, você quando expõe seu pensamento ou a sua opinião sobre algum assunto, pode se ter á certeza que será críticado por várias pessoas que se opõe da sua opinião. Todos nós devemos, saber ouvir e respeitar a opinião do próximo
Devemos, contudo, correr o risco. Acho eu. A coragem é o primeiro ingrediente da receita.
Boas reflexões, alunos do 1° ano C!
esse curso me fez ter capacidade de olhar para as situações de maneira crítica. Isso exige, principalmente, que eu possa consiga deixar suas crenças e opiniões de lado para fazer sua análise. É como se fosse capaz de ver as coisas de fora, como alguém que não está participando, apenas analisando.
O pensamento critico em minha visão se deve a uma idéia de uma impressão ou opinião de um certo assunto, não sendo ela uma idéia negativa.
Ok, Bernardo e Giovanne!
O pensamento crítico é questionar o processo, para que de tudo certo na maioria das vezes.
Sou Cynthia, de Passos/MG-Brasil
Achei bem bacana este módulo, particularmente o último texto: Pós- estruturalismo.
Fiquei pensando bastante na importância da postura crítica e de que as identidades são criadas no relacionamento com os outros ou seja, são socialmente criados e não algo interno.
A minha postura profissional como terapeuta clínica tende a ampliar depois dos textos lidos e das reflexões que tem sido possíveis. Estou reverberando os textos.
Muito bom! Obrigada pela oportunidade
Também gostei deste texto dos pó estruturalismo, pois ele nos demarca os fundamentos filosóficos das terapias.
Os textos desse tópico foram os que mais me impactaram, principalmente o da Mary Heath sobre “pensamento crítico”. Abriu minha visão e trouxe reflexões que eu nem lembrava de ter guardado em gavetas. A explicação sobre pós-estruturalismo esclareceu muitas dúvidas, e poderia ter sido apresentada no começo do curso. Obrigada!
Adorei a didática deste módulo. Todos os materiais são importantes e eles tratam de assuntos que podem ser “tidos como certos”, mas lidam com o não-óbvio. Muito importante mesmo. Gostei muito de ter em mãos um artigo que trata sobre as diferenças entre crítica e pensamento crítico. Sempre converso com um grupo específico de pessoas próximo a mim a respeito da “crítica colaborativa”. Temos que crescer juntos, mas temos que saber conversar. Aqui no Brasil acabamos por lidar muito com o eufemismo, pouca crítica em frente às pessoas, mas quando as fazemos, acabamos não sabendo como fazer e podem ser comentários muito duros. O universo acadêmico é cheio disto. Temos muito o que a aprender em termos de tecer críticas e aceitá-las também. E obviamente que também precisamos aprender a pensar criticamente, sair da superficialidade, já que este é um projeto contraeducativo que é cultural no país.
Por outro lado, algo que já conversei com outras pessoas é a respeito do termo “crítico”. Será que também não é arrogante ou expressa alguma forma de poder em relação ao saber? Talvez algumas alternativas seriam “pensamentos progressistas” ou “alargados” em relação a algum tema. São só ideias….
Gosto do termo critica-colaborativa, pois estamos acostumados com sentido pejorativo da palavra critica. Acho que este termo, no sentido positivo, vem do criticismo kantiano.
Manoel Vasconcellos Gomes, Rio de Janeiro.
O pensamento crítico-colaborativo significa muito para mim, principalmente em terapia, uma vez que é no mínimo a dois que se faz o processo e se não tivermos senso crítico de como estamos, respeito \á história nossa e do co-autor, o processo não anda. O terapeuta tem um papel importante quando descentraliza o processo terápico e com isto permite a crítica colaborativa, de ambos aos lados.
A minha prática com envolvimento com estes materiais, com certeza irão me ajudar, tanto para enriquecer a terapia, tanto como para minha autocrítica como para agregar conhecimentos.
Tenho bastante histórias relacionadas com o pensamento crítico, principalmente como um processo de alargamento de conhecimento, saindo de minhas próprias crenças, agregando.
Danielle Marinho. Rio de Janeiro – Brasil.
Esse módulo foi bem interessante pois enquanto psicólogos, devemos ter um pensamento crítico aflorado que nos permita questionar verdades tomadas como absolutas, normas que são tratadas como se não devessem ser contestadas e padrões que são tomados como um ideal a ser seguido.
Assim, por estudarmos os seres humanos e seus comportamentos e entramos em contato com pessoas tão distintas, nós não podemos nos restringir a essa forma de pensar tão limitada e retrógrada.
O pensamento crítico nos faz sair da inércia, desconstruir barreiras, romper com paradigmas e criar uma nova forma de ver as pessoas e o mundo.
E em especial, adorei o texto de Mary Heath! Enorme aprendizado e REFLEXÃO
Mary Heath nos convida para sairmos da passividade e da zona de conforto para assumirmos os riscos embutidos numa postura mais crítica. Acredito que o primeiro passo em direção ao pensamento critico seja duvidar, questionar a realidade que internalizamos como verdade. Pensar criticamente seria sairmos de uma forma rasa e medíocre de vermos o mundo, as relações, os problemas , valores, crenças e comportamentos para uma visão mais profunda e ampla da realidade.
SANDRA MARA DE MELLO
BARRETOS/SP
O pensamento crítico é necessário para evoluirmos, para a reflexão que leva às mudanças.
Mas não críticas destrutivas, e, sim, as construtivas devem ser levadas em consideração.
Somente assim dogmas e paradigmas podem ser quebrados e a sociedade evoluir.
Capitulo muito importante e interessante, ao compreender que a a construção de um pensamento critico pode ser considerado uma ferramenta fundamental nas Praticas Narrativas para a desconstrução de narrativas dominantes e o enriquecer das historias.
Brasil – São Paulo – São Paulo
O estudo deste módulo me fez revisitar minha história e identificar as posições de poder e a influência das ideias estruturais na minha formação. Me ajudou a começar a olhar de uma maneira mais crítica sobre o assunto e reavaliar as posições de poder e refletir sobre as melhores formas de lidar com esse assunto no dia a dia. O pensamento pós-estruturalista aplicado à terapia não só trouxe luz ao assunto como validou as ideias que já possuía.
Este módulo foi muito relevante para mim. Refletir sobre as questões de privilégios são fundamentais para um trabalho com ética e compromisso político e social. Reconhecer todas essas questões e como influenciam a construção das identidades, é potente e libertador.
E em relação ao pensamento crítico, a pergunta sobre como podemos comunicar respostas críticas de modo que construam relacionamentos em vez de prejudicá-los, penso ser desafiador nas diversas esferas das nossas vidas.
Erika São Paulo
Falo do RJ ( Brasil).
Para mim, o pensamento crítico é como olhar para uma situação e ver como você reagiu à ela.
Muitas ações que tomei no passado, na época, eram as melhores possíveis para mim, e hoje, eu agiria diferente.
Portanto, pensamento crítico é como foi mencionado no módulo: uma autorreflexão.
Precisamos disso para nos analisar e poder melhorar cada vez mais.
Nossa mente é plástica, o que implica em uma constante evolução, logo se pensarmos sobre o ponto de vista de linhas de pensamento, o Pós-estruturalismo é o que mais consegue acompanhar essa evolução.
Percebo que cada vez mais eu venho pensando e vivendo de forma pós-estruturalista; no entanto, realmente é bastante difícil fugirmos ao estruturalismo, visto que nosso mundo está alicerçado nesta maneira de vivenciar a realidade. Outro ponto que este módulo trouxe e que foi bastante interessante foi a questão do pensamento crítico, abordando privilégios, preconceitos, entre outros assuntos. Ao apresentar a situação dos descendentes de italianos, lembrei-me de minha infância na escola, onde apelidávamos os descendentes de asiáticos de China, Japa, Japonês, etc. Para nós era algo normal, porém apenas depois de adulto, dentro da Psicologia, foi que vim a saber que isso era uma maneira de ser preconceituoso para com eles e isso foi surpreendente para mim. O preconceito está tão arraigado que eu sequer o percebia. Os demais preconceitos são a mesma coisa. Muitos são escancarados na sociedade brasileira, como o preconceito contra negros, índios e mulheres e outros são mais discretos, porém existem aos milhares. O pensamento crítico, quando realmente ocorre, leva-nos à profunda reforma íntima, pois já não conseguimos mais ser os mesmos.
(Belo Horizonte/MG) Esse módulo me lembrou a música do Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Pensar criticamente é abrir espaço para o crescimento e ampliar perspectivas. Gostei muito do artigo de Mary, em especial de suas reflexões sobre como o pensamento crítico não precisa descuidar das relações, mas pode manter-se em uma perspectiva ético-política dessas relações de modo que cada um possa favorecer a ampliação do universo de possibilidades do outro.
O pensamento crítico e pós-estruturalista é especialmente importante em minha prática com adolescentes em conflito com a lei, seja por permitir contextualizar histórica e culturalmente uma serie de preconceitos, seja pela possibilidade de ampliar possibilidades, construir novas identidades e identificações.
Como é importante refletir sobre o pensamento crítico nas relações, pois muitas vezes não nos damos conta dos privilégios que temos que nos colocam em posições de favorecimento, mas o mais interessante é que podemos auxiliar o próximo com nossos posicionamentos firmes em favor de uma ética das relações humanas ou de uma reumanização das relações.
O pensamento crítico é fundamental a uma terapia bem sucedida. Se no processo estão envolvidos dois ou mais seres situados socio e historicamente, evidentemente os rumos a conversa terapêutica serão influenciados pelos conhecimentos particulares de cada um. Fomentar o pensamento crítico do cliente também é essencial na busca por mudança, reavaliando momentos marcantes de sua vida que podem gerar novas compreensões e interpretações de si mesmo, consequentemente criando ferramentas de enfrentamento e novas formas de ser e relacionar-se. Talvez o pensamento crítico seja uma das partes estruturais mais importantes no processo terapêutico estabelecido sob a perspectiva das práticas narrativas.
Acredito que um pensamento critico exige encararmos os nossos privilégios e reconhecer como as relações de poder influenciam todas as instancias da vida humana, incluindo as teorias e a pratica clinica.
Partindo dessas ideias é possível a construção de uma pratica mais humana, menos culpabilizante e patologizante, que entende como os problemas são reflexos de injustiças e desigualdades nas relações de poder.
Rafaella, de Franca-SP
Compreender o que é Pensamento crítico é também pensar nessa ferramenta muito importante para as Práticas Narrativas, uma vez que a partir das análises e avaliações dos nossos pressupostos, é possível repensá-los, com o objetivo de melhorá-los. É preciso que exista uma desconstrução das narrativas dominantes para que seja possível expandir o horizonte de possibilidades existenciais. O modo como o módulo aborda tais estratégias é muito pertinente.